Segredos obscuros da Louise

O desafio partiu do Ulisses e como eu não sou capaz de lhe recusar nada, aqui ficam 6 segredos que os meus caros leitores desconheciam… até agora, claro está.

1. Possuo uma capacidade de disciplina que impressionaria Kim Jong-iI. Quando me predisponho a fazer determinada coisa, sou implacável a cumpri-la.

2. Sou bastante impaciente quando tento explicar algo a alguém e a pessoa não compreende de imediato. Definitivamente, nunca daria uma boa professora.

3. Sou completamente apaixonada por stilettos… mas isso já alguns de vocês saberão. Nada me faz sentir mais sensual do que uma mini saia/mini vestido e uns belos stilettos a acompanhar.
4.Tenho um pavor quase inexplicável de que falem mal de mim nas minhas costas. Gostava de ser indiferente a essa possibilidade mas simplesmente não consigo.

5. Sinto-me casa vez mais amedrontada que a vida passe por mim sem que eu a viva devidamente.

6. E porque não podia de deixar de revelar este, tendo em conta a pessoa que me desafiou, eu já tentei ler por 2 vezes o Ulisses de James Joyce sendo que a primeira leitura se revelou demasiado difícil – tinha 17 aninhos na altura - e acabei por tentar novamente… ainda não consegui terminar.

E viveram felizes … enquanto durou.

Crescemos a ouvir histórias como a Cinderela, a Branca de Neve ou até mesmo a Bela e o Monstro, em que o final era um e o mesmo: “E viveram felizes para sempre…”
Passamos a infância e a adolescência a sonhar com o nosso príncipe encantado que nos socorrerá nos piores momentos da nossa vida, romantizamos todas as intenções dos homens e acreditamos piamente que, com um breve sorriso nosso e alguma demonstração de uma timidez qb, eles se apaixonarão perdidamente por nós.

E é então que, normalmente de forma súbita num qualquer momento da nossa vida, nos apercebemos que afinal as coisas raramente terminam com um para sempre.
E é neste ponto que muitas de nós deixam de acreditar em contos de fadas.

Mas será que realmente os contos de fadas não existem?
Honestamente eu acredito que sim, que existem. Sou uma crente, o que se há-de fazer?!

Acredito, no entanto, que os contos de fadas, tal como tudo o resto na vida, também evoluíram para os tempos modernos. Os contos de fadas de hoje em dia já não se centram exclusivamente na procura de um príncipe que case connosco e nos leve para um imenso castelo para procriarmos como coelhos.
Hoje em dia nós próprias já construímos o nosso castelo. O nosso conto de fadas passa por sermos mulheres independentes e realizadas, com carreiras profissionais (seja em que sector for) bem sucedidas que na realidade já não precisam de ser socorridas de coisa nenhuma.

E quanto à parte romântica da coisa? Bom, hoje em dia já não é obrigatório viverem felizes para sempre. Hoje em dia é obrigatório, sim, estar com quem queremos porque queremos e enquanto nos sentirmos felizes. E isso sim é um verdadeiro conto de fadas. Não nos resignamos ao confinamento de um castelo, mas queremos percorrer o mundo e encher a nossa vida de experiências e recordações.

Hoje em dia o príncipe já não manda em nós, mas mandamos ambos nas nossas opções. Juntos escolhemos caminhos, juntos planeamos o futuro e juntos aprendemos a crescer. Viajamos, sorrimos, choramos lado a lado e amamo-nos sem quaisquer obrigações ou limitações. Podemos não prometer o para sempre, mas no aqui e agora damos tudo de nós sem restrições. Entregamo-nos de uma forma, como nenhum príncipe ou princesa o faria.

E prometemos viver felizes enquanto durar. E surpresa das surpresas… muitas vezes até dura para sempre.

Encontros Casuais - Part V



Abriu a garrafa gelada da Vinha da Defesa. Preferia vinho tinto, mas a noite estava demasiado quente e precisava de refrescar-se. Reparou que ela apenas molhava os lábios quando lhes encostava o copo. Não falaram de si nem das suas vidas. Falaram de cinema e livros, tinham gostos semelhantes. Ela era uma boa companhia de conversa. Inteligente e pragmática, características que lhe agradavam. Não que fossem requisitos imprescindíveis, mas gostava de estar com mulheres que não fossem exclusivamente atraentes.

Ela caminhou para o terraço e ele ficou por momentos a saborear as formas dela. Vê-la de costas de calças de ganga justas deixou-o quase doido de impaciência. Bebeu o resto do vinho que tinha no copo de um trago e reabasteceu-se antes de a seguir.
Aproximou-se dela por trás e encostou-lhe o copo no braço desnudo. Ela soltou um gemido leve e ele sentiu a excitação apoderar-se do seu corpo. – uhm… sabe bem o toque gelado – disse-lhe quase num sussurro.
Ela voltou-se para ele e debaixo da luz fraca a sua expressão era quase enigmática, como se ali houvesse um qualquer segredo escondido que ele simplesmente não conseguia deslindar. Tentou ler-lhe os olhos, tentou decifrar-lhe os pensamentos inerentes ao seu inaudível pedido. Desejou saber mais, desejou conhecê-la... desejou algo que não queria, que não se permitia desejar.

Sofia levou o copo à boca mais uma vez e ele observou o movimento sem se mexer. A música leve e relaxante que tinha colocado a tocar ouvia-se em fundo e, muito suavemente, ela começou a mover o corpo no mesmo ritmo enquanto fechava os olhos e deixava cair a cabeça para trás. Reflexivamente Rafael pegou-lhe na cintura com uma mão e encostou ambos os corpos enquanto se entregavam numa dança sensual e suave ausente de quaisquer condições ou exigências. O perfume dela estava a inebriá-lo, os movimentos da sua cintura debaixo do seu toque toldavam-lhe o raciocínio, a música despertava-lhe os sentidos de uma forma quase exasperante.
Ela moldava-se contra ele e ele não lhe escondia a necessidade que ia crescendo dentro de si de a ter mais perto... muito mais perto.
Pousou o copo e levou a mão por trás do pescoço dela obrigando-a a olhar para si. Os olhos fundiram-se num reconhecimento de necessidades mútuas que não queriam, não podiam ser restringidas. Não precisaram de trocar quaisquer palavras, compreenderam-se de uma forma que o assustou por momentos.
Beijou-a de forma ávida e dominante. E ela entregou-se-lhe, numa oferenda total e ausente de qualquer timidez ou embaraço.
Continuando os movimentos de dança calma virou-se de costas contra si, Rafael beijou-lhe o pescoço e seguiu pelo ombro desviando a alça do top. Encurralou-a entre si e o beiral da varanda e fez-lhe sentir o desejo cada vez mais urgente.
As suas ancas provocavam-no sem misericórdia, ele desceu as mãos pelos contornos de Sofia e vagarosamente deixou-se saborear a ondulação do seu corpo.
Continuaram aquela dança magnética e inebriante e ela colocou as mãos por trás de si, entre os corpos de ambos, num requerimento à sua libertação. Rafael não se conseguia controlar muito mais – Quero-te Sofia! – disse-lhe num tom rouco e grave que não deixava dúvidas quanto à exigência que abarcava.
Voltou-a para si novamente e enquanto a beijava guiou-a para uma das espreguiçadeiras em verga que se encontravam no terraço, sem nunca se descolarem, deitou-a.
As respirações tornaram-se mais profundas, mais exigentes, mais ofegantes. A música continuava a tocar e eles deixaram-se levar no mesmo ritmo, calmo... sereno... saboreando os detalhes dos sons e dos movimentos. Ela movia-se de uma forma dolorosamente voluptuosa, dando-lhe a sentir cada parte do seu corpo quente, e os seus gemidos suaves diziam-lhe tudo aquilo que precisava ouvir.

Era o momento mais erótico que Rafael se recordava já ter tido e perguntou-se se também o seria para ela. Quebrou o beijo e procurou-lhe os olhos, enquanto as suas mãos a descobriam, e não tardou a perceber que ela partilhava das sensações que ele próprio sentia naquele preciso momento.
Ela arqueou as costas e lançou a cabeça para trás de uma forma que o levou praticamente à loucura. Envolveram os corpos numa necessidade contínua… fundiram-se no calor da noite e do momento enquanto se expunham reciprocamente… deixaram-se levar numa onda de prazer lasciva e imperativa.
Olharam-se nos olhos e explodiram ambos num frenesim de sensações que os assomou de uma forma reveladora e intensa.

Rafael abraçou-a, aninhado contra as costas dela, sem conseguir perceber muito bem o que tinha acabado de acontecer. Não conhecia esta mulher de lado nenhum e no entanto partilhara com ela uma intimidade que nunca partilhara com ninguém, nem mesmo com a ex-mulher.
Ao contrário do que acontecia normalmente, não quis que ela saísse no escuro da noite. Quis que ela ficasse ali com ele.

Pela primeira vez em muito tempo, não se sentia completamente só.

Sem dúvida...

... este foi um excelente fim-de-semana...

Primo Moduli - Capitulo 1

(Continuação de aqui)

Digitara a carta com uma força e rapidez avassaladoras como se, agora que tinha em plena consciência aquilo que tinha de fazer, o não fazê-lo significasse o cessamento da própria vida.
Tudo o que até então acreditara ser a sua entidade não mais tinha relevância. Não queria que tivesse. Despertara da letargia em que se encontrava há demasiado tempo e somente agora sabia ser capaz de começar a viver.
Não queria e nem iria permanecer mais preso a um passado que não era o seu.

Dobrou minuciosamente a carta em três partes iguais, como se de uma formalidade se tratasse, e colocou-a sobre a mesa. Não queria lidar com mais ninguém neste momento e saberia que em breve teria de ouvir todas as advertências e conselhos que não pediria.
Mas desta vez o seu presente, o seu futuro, não seriam ditados num jogo cujas regras lhe eram infligidas de forma demasiado penosa para que pudesse suportar.

Inspirou profundamente o ar gélido daquele final de tarde, como se agora sentisse todos os detalhes de uma vida não disfrutada de forma dolorosamente acutilante e libertadoramente real.
Quase sentia na língua o sabor daquilo que seria de ora em diante.

Esperou. Pacientemente, como se tivesse todo o tempo do mundo. As horas passaram, e ele permaneceu ali, sentado, num estado de calmaria que não reconhecia.

A porta abriu-se vagarosamente, como se ela adivinhasse a intempérie que a sua vida estava prestes a sofrer. Ela sabia. Ele sabia que ela sabia.
Ela olhou para ele com uma graveza tal no olhar que quase o levou a desistir da sua corajosa e tão ansiada decisão. Quase…

- Não esperava que já estivesses em casa. – As mãos dela libertavam-se, de forma demasiado lenta e ponderada, da mala e casaco.

- Não fui trabalhar hoje.

Rasgava-se-lhe a alma pelo que estava prestes a fazer. Sentiu-se sucumbir num redemoinho de emoções e sentimentos que lhe toldavam o raciocínio e a razão.
Apetecia-lhe gritar para que todos ouvissem que era aqui. Agora! Não mais!

Inspirou fundo e levantou-se. Apesar da urgência para levar a cabo o que se predispusera a fazer, sentia-se estranhamente calmo.
A luz guiava-o, a clareza do caminho a seguir era demasiado presente para que pudesse ser ignorada. Agora sabia-o.

Calmamente pegou na carta e entregou-lha.

(Continua... Aqui)
(Uma parceria by Louise & Ulisses)

Primo Moduli - Considerações

Quando (re)comecei este blog, fi-lo com uma ideia em mente: dar asas à imaginação, partilhar os meus “outros mundos” sem restrições ou acondicionamentos. E o anonimato que estabeleci está a revelar-se, sem dúvida alguma, um bálsamo para alma.

No percurso, ainda curto, da elaboração deste meu espaço tenho-me cruzado com outros bloggers que me surpreenderam de forma extremamente positiva pelos seus conteúdos, escrita e visão e ao mesmo tempo por me darem o prazer de apreciarem aquilo que escrevo.

Um blogger em particular é o Ulisses. Desengane-se quem pensa, ao entrar no mundo Luxúria deste blogger, irá encontrar coisas menos próprias. O que se encontra por lá é uma escrita sublime, repleta de sensualidade e erotismo que nos marca e nos deixa a ansiar por mais.

E eis que o Ulisses me propôs um desafio deveras interessante que não hesitei em aceitar. O desafio consiste em desenvolver uma história alternadamente em que nenhum de nós sabe o que acontecerá a seguir. As únicas regras é deixar fluir as palavras numa escrita sem grilhões dando sempre continuação ao capitulo escrito anteriormente.

Nenhum de nós sabe o que resultará desta parceria, mas adivinha-se qualquer coisa de entusiasmante e acima de tudo divertido.

A história será publicada alternadamente nos dois blogs e o prólogo já foi feito pelo autor da sugestão. Quem estiver interessado em acompanhar a viagem poderá consultar aqui.
 
Liberte-se a mente... aqui vamos nós...

Atrevidos

Existe um determinado local, mais precisamente uma espécie de cruzamento com semáforos, onde passo todos os dias de carro a caminho do emprego.

Ora, eu entro nessa via fazendo uma curva à esquerda. Acontece que aquele semáforo tem muitos peões que desejam atravessar e o problema reside no facto de que, talvez devido à extrema vontade de chegarem aos respectivos locais de trabalho, os ditos peões colocam-se precisamente na curva e no limite do passeio – assim como que, quase… quase na estrada.

Uma vez que a via tem 2 faixas, é-me difícil fazer a curva mais larga, e portanto ou me mando para cima do carro à direita, ou passo por cima dos pés daquela malta atrevida.


Adivinhem lá qual é a opção que o diabo dentro de mim escolhe?

Encontros Casuais - Part IV



Na última semana vários foram os impulsos que o levaram a pegar no telemóvel para lhe ligar. Ela não lhe saía da cabeça, sabia que aquela sensação desapareceria depois de provar o fruto desconhecido, mas não queria ser demasiado precipitado. Sabia bem o que procurava, um pouco de divertimento e gozo mas não mais do que isso. Bastara-lhe um casamento fracassado pela fraqueza da traição e não estava disposto a que deixar que voltasse a repetir-se.
E no entanto os sonhos com aquelas curvas secretas passaram a ser uma constante, quer estivesse ou não a dormir. A imaginação soltava-se de si sem que conseguisse travá-la, a necessidade crescia-lhe e sabia que era urgente saciá-la.

Voltou a colocar o telemóvel no bolso, pegou na pasta e dirigiu-se à sala de reuniões. Hoje era um daqueles dias em que lhe apetecia tudo menos passar uma tarde inteira a escrutinar os temas do momento, entrando em espirais de ideias absurdas que não levariam a conclusões algumas. Tomou o seu lugar no topo da mesa oval, recostou-se na cadeira e viu os vários intervenientes ocuparem os seus lugares. Iria ser uma tarde longa.

Suspeitou, sem saber bem porquê, quando viu o homem grisalho entrar. Ela entrou logo de seguida. Talvez afinal a tarde se viesse a revelar bem mais agradável do que previa.
Envergava um tailleur de saia, cinza acetinado, com uma camisa preta que lhe dava um ar autoritário e demasiado atraente. Trazia o cabelo apanhado num rabo-de-cavalo e óculos de massa preta. Percorreu-lhe as linhas discretamente, era uma mulher extremamente elegante e mais alta do que o normal. Calçava uns sapatos de salto alto pretos envernizados, um pormenor que não lhe escapou dado o sublime atrevimento que denotavam.
Durante as horas que se seguiram observou-a a falar. Era firme e assertiva, e não fosse pelo movimento com a caneta que talvez mais ninguém tivesse notado, não lhe perceberia o nervosismo. Por algumas vezes os seus olhos cruzaram-se, numa dança sensual e invisível para os demais.

O sol já se tinha começado a pôr quando a reunião terminou. Queria falar-lhe, convidá-la para jantar, mas fora apanhado por um dos colegas e ela saíra antes que o pudesse ter feito. Isso irritara-o de forma particular.

Descobriu-a minutos depois sentada no seu gabinete. Esperava por si.
Sem frases complexas ou discursos justificativos, sorriu-lhe. Ficou surpreendido mas agradado pela audácia dela. Claramente era uma mulher decidida que sabia o que queria. Tal como ele.
– Conheço um restaurante de Sushi no Guincho, tens fome? – Disse-lhe ela.
– Quatro ou duas rodas? – respondeu-lhe.

Acertou na escolha, mas por algum motivo também não duvidava qual fosse. Ela quis passar em casa para mudar de roupa e deixar o carro. Não o convidou a subir.

Seguiram de mota com ela abraçada à sua cintura. Conseguia sentir o corpo dela colado às suas costas e levado por aquele contacto erótico e sensual deixou a mota seguir a uma velocidade calma, queria prolongar a sensação de proximidade.

Conversaram e riram, enquanto saboreavam o sushi à beira mar. De calças de ganga e um top preto simples, já não tinha a imagem de executiva, mas a pose intimidante continuava lá.
Não se iludia com ela. Era demasiado óbvio o seu estatuto para que se pudesse iludir. E ela era uma mulher que sabia como seduzir um homem. Qualquer homem. E ele deixar-se-ia seduzir por ela, queria-o, precisava que ela o seduzisse. Hoje precisava disso.

Esta noite não iria sozinho para casa… esta noite, ela acompanhá-lo-ia…

Quando as barreiras caem

Tentamos criar barreiras, tentamos ser imunes, tentamos ignorar.
Mas nem sempre conseguimos ser isentos a sentir.

É inevitável que nos sintamos afectados por determinados eventos que nos rodeiam, que nos sintamos afectados ante determinadas atitudes de pessoas que, apesar de até esperarmos não mais que isso, nos fazem sentir incomodados continuamente. Seja por aquilo que fazem ou dizem, seja pelo que fica por fazer ou dizer.

E é uma constante batalha a que travamos para podermos elevar-nos acima de tudo isso. É a luta para criar barreiras, ser imune e ignorar as desfeitas dos demais.
Mas dias há em que tudo é abalado e a vulnerabilidade assume o controlo sobre nós. Deixamo-nos ir pela espiral de sentimentos menos nobres e cedemos às divagações intransigentes do nosso pensamento. E por breves momentos cedemos à tentação de deixarmos de ser quem somos para passarmos a ser alguém que não queremos reconhecer.

Resta-nos pois, esperar que as barreiras se ergam novamente protegendo-nos de todo esse mundo alheio à nossa própria consternação.

Lições de Vida

Porque na vida não se pode ter tudo o que se quer...


Devemos apreciar e tirar partido daquilo que se pode ter...

One Thousand Sensations in a Wicked Wonderland

A ansiedade e a antevisão do que a noite me esperava afloravam-se-me na pele. O ambiente misterioso e todas aquelas pessoas, unidas no branco e na mesma vontade de, por uma noite, entrarem num mundo pervertido, provocaram-me um arrepio na espinha.

Naquela noite iria seduzi-lo, brincar com ele, iriamos dançar até que os nossos corpos cedessem de exaustão. Afinal, porque não?

Soube-nos bem… mais que bem, a mim e a ele. A música começava, o espectáculo iniciava-se, e nós alinhámos ambos na descida a esse mundo distorcido e cheio de sensualidade.

O branco assenta-lhe na perfeição, naquela pele morena. Vejo como os olhares femininos o devoram mas aquele olhar verde penetrante e misterioso pertence-me a mim, só a mim. E sei que ele também gosta de me ver com a toilette que escolhi para a noite e o cabelo preso ao alto que deixa a nu o meu pescoço e ombros. Sinto-me bela, sexy, a mulher mais sensual naquela multidão de rostos e corpos iguais.

A dança começa e os corpos fluem praticamente unidos sem, no entanto, se tocarem. Ele beija-me. Eu termino o beijo e volto-me de costas para ele, sei que gosta, sei que delira quando o faço, e continuo a dançar.
Vejo os olhares na nossa direcção, sinto-me olhada e apreciada, e isso faz com que me entregue ao abandono de todas aquelas sensações que o ritmo da música e as luzes fantasiosas despertam em nós.

Fecho os olhos e deixo-me ir, sabendo que ele vem comigo. Juntos continuamos noite fora naquele jogo de sedução, sabendo que nenhum de nós resiste, os corpos suados e a respiração cada vez mais ofegante. Bebemos para apaziguar os lábios inchados e libertar os sentidos.
As horas passam rápido de mais, e apesar de querermos continuar naquele mundo, sabemos que um outro nos aguarda. Um mundo onde só nós dois existimos, onde o branco dá lugar à cor da pele, onde o resto dos olhares desaparecem e restam apenas os nossos, onde as sensações são levadas ao rubro depois da tortura da noite.

Ele acelera o carro. Eu coloco o som alto.
Juntos rumamos ao nosso próprio Wicked Wonderland.

O Diabo Quer... o Diabo Tem!

E porque da última vez o diabo dentro de mim não viu satisfeitos os seus desejos, este fim-de-semana terei  de o saciar com alguma coisa em grande.

Defeito ou Feitio?!

Apenas e unicamente porque foi a Sofia a lançar-me a pergunta de quais são as 6 tontarias que gosto de cometer, e depois de uma reflexão leve, aqui fica a resposta:

1. Sempre que estou em situações mais sérias, como reuniões ou conversas profissionais, inevitavelmente começo a imaginar os mais estranhos cenários possíveis: colocar-me em cima da mesa e começar a dançar – quiçá fazer um strip ; gritar com toda a força que os meus pulmões me permitirem; chamar um nome muito feio àquele elemento em particular que não deixa o tema evoluir.

2. Entregar-me à minha própria companhia, algo que por vezes não é bem aceite pelas pessoas. Só eu, o meu livro e a minha música e posso passar horas alheada a tudo o resto.

3. Comer morangos com a mão e inteiros. Um morango com um garfo espetado simplesmente não tem o mesmo sabor…

4. Colocar os braços no ar enquanto danço quando realmente me estou a perder ao som da música. Provavelmente é simplesmente parvo… mas permite-me saborear melhor as sensações de um bom ritmo. E sentir-me mais sensual, claro.

5. Quando estou completamente às escuras, regresso à infância, e começo a imaginar um qualquer monstro/ser que está prestes a agarrar-me e que, à semelhança de um qualquer filme, na hora em que me vai agarrar eu subo para a cama que é o meu escudo protector. Desejos reprimidos??... talvez…

6. Tentar induzir os sonhos… por vezes com sucesso…. outras nem por isso.

Encontros Casuais - Part III



Transpôs calmamente o salão e dirigiu-se ao corredor de acesso à casa de banho. Num dos cantos tomava lugar, sob a maior das descrições que a luz fraca permitia, uma conversa entre um dos senhores importantes e uma senhora que adivinhava ser uma das secretárias. Não queria ficar mais tempo ali. Lavou as mãos e a cara e arranjou a camisa preta por dentro das calças do fato. Olhou-se ao espelho e reflectiu sobre o que viu. Sabia que as mulheres gostavam da sua imagem de 1,85m e corpo atlético, olhos escuros e pele morena. Gostavam da mesma forma do seu carro e do seu estatuto. Era uma vantagem sem dúvida, mas tornava o jogo muito mais arriscado. Passou as mãos pelo cabelo e saiu.


Procurou Pedro no meio das dezenas de fatos e vestidos de cocktail a fim de lhe dizer que já tinha tido a sua quota de diversão.

Estagnou surpreendido ao ver uma cara levemente conhecida. A postura sensual e o cabelo dourado solto, em oposto à generalidade, denunciaram-na. Era realmente atraente, de uma forma implicitamente inatingível. Observou-a de longe sabendo que não o veria. Estava sozinha desta vez. Trazia um vestido castanho que lhe caía abaixo do joelho e sem costas que revelava pouco e incitava a imaginar mais. Ela sentou-se e cruzou uma perna sobre a outra num movimento lânguido e demorado enquanto mexia no telemóvel. Perguntou-se o que faria ela ali, quem seria.

Ganhou coragem, tirou um copo de champanhe da bandeja do empregado que passou por si e dirigiu-se a ela.
Ofereceu-lhe a bebida e apresentou-se. Ela respondeu-lhe educadamente com uma indiferença algo desconcertante. Não estava habituado à indiferença. Respondia pelo nome de Sofia.
Falaram de trivialidades, da festa e dos presentes enquanto ele, na sua mente, projectava imagens absurdamente deliciosas e arrebatadoramente despropositadas. Ela olhava-o nos olhos quando se lhe dirigia e isso provocava-lhe um prazer desconhecido. Não era uma secretária, mas trabalhava numa das empresas com as quais tinha negócios.
Foram interrompidos, demasiado precocemente, pelo homem que reconheceu como a companhia dela do bar. Apresentou-se, era chefe dela. Desagradou-lhe a ideia que formou de imediato, a mesma que havia formado no último encontro. Mas desta vez acalentou a esperança de estar equivocado. Teve a confirmação de que estava quando uma das secretárias se acercou do homem e se insinuou de forma pouco simulada. Ali sim, não haviam dúvidas algumas.

Ela despedia-se agora, pedia desculpa mas a sua noite acabava ali. Ofereceu-se para a acompanhar, também estava de saída, não se chegou a despedir de ninguém, a sua atenção estava virada apenas para ela.

A noite estava quente e a cidade já tinha adormecido. Havia qualquer coisa nela que o magnetizava de forma insana, não conseguia formar pensamentos que não fossem os de lhe passar as mãos pelos ombros desnudos ou passar a língua pelos seus lábios. Precisava urgentemente de estar com uma mulher.
Perguntou-lhe se lhe podia ligar um desses dias. Rafael não compreendeu de imediato o tom disfarçado de surpresa ao hesitar perante a sua ousadia, mas entregou-lhe um cartão. Não resistiu a demorar-se no toque da sua mão quando o aceitou, pensou que isso a intimidaria mas ela não recuou perante a sua discreta e directa sedução masculina.
O toque leve da mão dela levou-o a imaginar aqueles dedos finos e longos a traçarem-lhe os mais infindáveis percursos no seu corpo, a deslizarem por si de forma sumptuosa e magnífica, a provocarem-lhe arrepios de loucura...
Avançou mais para ela e nesse instante ouviu o alarme do carro enquanto as portas abriam – Boa noite – disse-lhe. Rafael esboçou um sorriso e acenou com a cabeça.

Iria para casa novamente sozinho. Abriu a janela do seu Volvo xc60, precisava de sentir o ar a refrescar-lhe as ideias, e ligou o motor. Gostava de ter trazido a R1 mas fato e mota não eram uma combinação perfeita. Arrancou devagar, mas quando entrou na A5 não resistiu a sentir a adrenalina que a velocidade lhe provocava.

Ligou o som alto e deixou-se levar.

Eu já...

Eu já morri e já matei. Já me perdi e já fui encontrada.

Eu já fui princesa e plebeia, já vivi romances arrebatadores e dramas intempestivos. Já fui salva pelos mais corajosos guerreiros e já jantei com os homens mais poderosos do mundo. Já fiz amor numa floresta obscura e já participei em festas de orgias sensuais de máscaras.
Já fui mãe, já fui libertina, já fui amiga e confidente de pessoas impensáveis. Eu já me levantei numa reunião e mandei tudo para o inferno. Eu já fui milionária e viajei mundo fora, eu já dormi ao relento numa noite gelada de inverno.

Eu já fiz sexo em locais públicos e já fiz amor em lugares inóspitos e românticos. Já fui pedida em casamento e já pedi a mão de alguém, já me casei e já me divorciei, já fui a melhor amiga de alguém e a pior inimiga de ninguém.
Já fui a mulher mais simples e humilde do mundo, e já fui a mulher mais bela e imponente à face da terra.

Eu já consumi drogas duras e drogas leves, já fui puritana e leviana. Eu já salvei a vida de alguém e já fui salva da morte vezes incontáveis. Já comi iguarias requintadas e já comi aranhas grelhadas. Eu já estive nos confins da terra e já fui à Lua. Já me perdi de amores por um homem casado e já traí quem em mim depositava toda a confiança.

Já fui católica e muçulmana, agnóstica e descrente. Já fui revolucionária e pacifista, já defendi e fui defendida. Já fui louca e aventurei-me no desconhecido, já saltei de pontes, aviões e abismos. Já me entreguei de corpo e alma às pessoas certas e às pessoas erradas e já me barrei a uma série de outras tantas.
Já fui actriz, manequim, cozinheira e empregada de caixa, já fui médica e engenheira, política e prostituta.

Já fui e já fiz de tudo, já vivi e deixei viver. E a única coisa que nunca fiz e nunca farei… é não ceder aos caprichos mais inusitados da minha própria imaginação.

Sem máscaras

A quem entregam vocês as vossas inseguranças e medos?

Penso que é das coisas mais difíceis de fazer, falar abertamente daquilo que nos atormenta, daquelas que acreditamos ser as nossas fraquezas e falhas. É difícil porque enquanto vivem apenas dentro de nós e do nosso pensamento temos controlo sobre elas, mas a partir do momento em que as verbalizamos tornando-as mais reais para outra pessoa, então passam a ser factos irrevogáveis aos quais não podemos fugir.

Acredito que é preciso uma confiança desmedida por alguém para conseguirmos revelar este género de segredos.

Pelo menos assim o é no que me diz respeito. E se por um lado permite uma entrega total de mim como pessoa, também me torna mais vulnerável. E a fachada tão calculada que tanto me protege perante os demais deixa de poder ser utilizada para com aquela pessoa em questão.

Isso assusta-me. Assusta-me porque passo a ter consciência que aquela pessoa me conhece até ao mais ínfimo pormenor, sem máscaras ou disfarces, sem dissimulações ou ocultações. Mas o pleno daquilo que sou.

E o que verdadeiramente assusta é tão somente a derradeira questão: será que consigo ser amada por aquilo que verdadeiramente sou e não por aquilo que quero que acreditem que seja?

Encontros Casuais - Part II



Olhou à sua volta, observou aquele ambiente calmo e prazeroso do bar desconhecido. Um casal numa mesa oposta à sua, algumas pessoas no balcão e o empregado que preparava um qualquer cocktail. Em fundo tocava uma música calma, lounge. Nunca havia gostado particularmente desse género de músicas mas, curiosamente, agora não lhe desagradava de todo. Estava na hora de começar a gostar de coisas novas. No auge da idade, sentia que os seus 30 e poucos anos lhe permitiam a indulgência de se redefinir.

Não havia ligado a Pedro, preferira ficar a sós esta noite. Rafael precisava de pensar na incongruência da sua vida. Era bem sucedido nos seus negócios, procurado pelas mulheres, agraciado pelos amigos. Mas o casamento falhado, pela ignomínia da traição de alguém em quem confiara tanto, fazia-o ainda hoje sentir-se vilipendiado. Não se tornaria num homem amargurado com os pesares com que o destino o brindara, mas decidira que as rédeas desse mesmo destino estavam agora nas suas mãos. No que diria respeito à entrega da sua confiança pelo menos. Não, não daria mais essa oportunidade. A quem quer que fosse.

Brincou com o copo de whisky e tentou relaxar ao som da música e deixou-se levar pelo nada entorpecedor daquele momento, naquele bar desconhecido.

Estava prestes a levantar-se quando ela entrou. Não soube o que exactamente o impediu de se levantar, mas deixou-se ficar. Afinal tantas outras mulheres tinham tentado entrar na sua vida quando ainda nem sequer pensava em sair e nunca antes alguma o tinha feito sequer hesitar.

Mas ela fizera. Talvez fosse o cabelo dourado que lhe caía pelos ombros de forma sensual, ou o antever de umas curvas sublimemente sinuosas por baixo do seu tailleur de saia preto. Talvez a forma provocativa, no entanto discreta, como se mexia ou as pernas longas naqueles saltos altos a que poucos homens resistiam. Talvez a promessa calada de encontros extenuantes repletos de casualidades e cedências mútuas.

Estava acompanhada por um homem bastante mais velho, formalmente vestido, que lhe colocara a mão no fundo das costas, numa subtil atitude possessiva. Encaminhava-a para uma mesa perto da sua.
Viu-lhe o rosto claro sob a luz ténue ao passar diante de si, e por um segundo longo, o seu olhar fixou-se nele. Estupidamente sentiu uma excitação indesejável tomar conta de si, e reposicionou-se discretamente. A necessidade súbita não se coadunava com a actividade calorosa dos últimos tempos. 
Fez sinal ao empregado com o copo na mão. Não tardou a vir.

Tentou imaginar a história dela. Não tinha aliança no dedo, contrastando com o facto de a sua companhia ter. Seria sua amante? Uma acompanhante de luxo talvez. Sabia como eram essas acompanhantes, por norma mulheres atraentes pautadas por uma postura de classe e segurança. Pensou como a respeitava mais, independentemente do seu estatuto ali, pelo simples facto de não ter aliança no dedo.
Não conseguia ouvir a conversa e o bom senso impedia-o de atentar ao que se passaria naquele encontro. Riu-se de si próprio, da sua triste e patética situação. Ainda não tinha acabado a bebida, mas colocou uma nota na mesa, pegou no blazer e levantou-se para sair.

Ela levantou-se também. Com uma breve despedida formal deixou o homem na mesa e com um caminhar confiantemente pesado encaminhou-se para a saída.

Saiu atrás dela, sem saber bem com que intuito. Viu-a dirigir-se ao carro, tinha carro próprio o que não combinava com a hipótese de ser acompanhante, seria amante portanto. Ou não.
Quis ir ter com ela, apresentar-se, mas achou a ideia simplesmente despropositada. Ouviu o motor a trabalhar e ficou a ver o carro desaparecer no escuro da noite. Arrependeu-se quase de imediato, ainda que com a desculpa de um falso sentido de sensatez, de não ter falado com ela. Teria gostado de passar a noite acompanhado.

Mas esta noite voltaria só para o seu apartamento, como todas as noites anteriores.

Vontades

Isto é o que eu queria ir fazer hoje à noite...



Isto é o que a malta quer ir fazer...

Que belo dia

E porque andamos numa de recomeços, hoje constatei que seria um excelente dia para recomeçar o ginásio - isso e a culpa de todos os chocolates e doces de abóbora com requeijão e sobremesas apinhadas de calorias comidas nas últimas semanas.

Se bem que é uma seca ir ao ginásio e constatar que somos a única alminha feminina pelas bandas. Mas é bonito ver a  força de vontade daquelas criaturas  masculinas que por lá se encontram logo pela manhã ora correndo, ora pedalando, ora grunhindo enquanto aumentam os seus biceps com muito custo.

Tomara eu ter tanta força de vontade assim. Mas desta é que vai ser! Não vou falhar a agenda desportiva nos próximos meses.... espero eu.

Encontros Casuais - Part I





As suas linhas já há muito haviam sido traçadas. Ele sabia-o. Sabia que por mais que tentasse lutar contra isso, os seus esforços seriam irremissivelmente gorados de forma curta e directa. Estava definido que assim seria e só lhe restava resignar-se à sua própria predestinação.
Já deixara de se sentir desprezado, humilhado e rejeitado. O rancor, esse, receava que ficasse para sempre mas depois da negação e incredulidade vinha o estado de torpor e clareza que agora abarcava de braços abertos.

Os seus negócios e os poucos amigos seriam o seu subterfúgio. Não precisava de mais nada, não precisava dela nem de outra qualquer. Não precisava de voltar a ser ridicularizado. Jamais voltaria a ser ridicularizado, isso sim era algo que ele garantia no seu previsível futuro.

Pousou a última caixa no chão. Naquele chão frio e limpo que agora seria o seu chão e o de ninguém mais. Tinha trazido muito pouco consigo, não queria nada que pudesse avivar as memórias de uma vida que já não era a sua, que não tinha passado de uma fraca e reles mentira, de uma vida já extinguida.
As poucas caixas que se amontoavam na sala do seu novo apartamento luxuoso e silencioso continham os livros e CDs que ela, muito autoritariamente, tinha despejado na garagem. A roupa viria depois, se viesse. Talvez comprasse roupa nova para não ter de sentir o cheiro dela que agora o enojava.
Sim, compraria roupa nova.

Não se sentia com paciência para arrumar o conteúdo daquelas caixas. Pegou no iPhone para ligar ao seu velho amigo Pedro, mas ficou a olhar para ele na sua mão. Prenda dela no primeiro aniversário de casados. Provavelmente fora o outro a escolhê-lo.
Calmamente desmontou-o e retirou-lhe o cartão enquanto se dirigia à cozinha. Abriu o caixote do lixo e atirou para lá as peças. Não lhe interessava guardar nenhum conteúdo que lá teria. Afinal, queria livrar-se de qualquer ligação a essa outra vida.

Meteu o cartão ao bolso das calças do fato e pegou nas chaves do carro. Iria comprar um novo telemóvel e depois beber um copo. Quiçá então ligasse ao Pedro.

Liberdade de Expressão

 Ah… a liberdade de expressão. Esse maravilhoso poder que todos pensamos possuir, mas que quase nenhum de nós possui na realidade.
O direito de podermos olhar nos olhos de alguém e deixar fluir nos nossos lábios todas as sílabas, adjectivos, pleonasmos ou antíteses que façam ou não sentido, quer sejam ou não aquilo que esse alguém quer, deseja ou espera ouvir.
Quais de nós temos verdadeiramente essa riqueza? A resposta a esta pergunta é simples e directa: nenhum de nós.

Se por um lado isso significa uma grande repressão da expressão livre, por outro é o que nos distingue como seres sociais e capazes de conviver e/ou suportar os demais.
Houve uma fase da minha vida em que realmente acreditava que dizer o que me ia na alma me tornava mais honesta, melhor pessoa portanto. Hoje em dia acredito que a honestidade não passa por debitarmos tudo aquilo que nos vem ao pensamento, mas sim em dizer as coisas certas quando o devemos dizer e em não dizermos nada quando devemos ficar calados.
E convenhamos que, em muitos casos, a liberdade de expressão não é mais do que uma desculpa conveniente para outras características como a crueldade e mesquinhez.

A liberdade de expressão é um bem precioso que todos nós temos e como todos os bens preciosos deve ser usada com cautela e muito bom senso.

Tarde demais

Mais do mesmo, sempre mais do mesmo. Mais de muito e mais de nada. Mais um café, mais um folhear do jornal, mais um percurso de pára arranca até ao trabalho.
Mais das mesmas caras e dos cumprimentos de sempre. Mais reuniões, mais assuntos urgentes e mais agendas preenchidas até ao final do dia. E no final desse dia, como em tantos outros, encontrar-se-ia com mais uma da sua, já longa, lista de amantes.

E no meio de tantos mais sentia-se completamente vazio. Os enredos da sua vida agrupavam-se em corredores estreitos e planos que convergiam em sentidos demasiado planeados e seguros carenciados de qualquer exaltação desconhecida. Nem as suas conquistas serviam para alentar o vácuo que sentia estar a apoderar-se da sua vida. Os dias passavam por si de forma automática e a sua resposta ao mundo envolvente era praticamente apática.

Estagnou ao lado do carro com o comando na mão ao final de mais um dia desgastante. O seu destino seria o apartamento da sua colega com quem se tinha envolvido no último mês. Analisou o prazer que isso lhe estava a proporcionar e pensou que era apenas mais um caso. Mais um de outros tantos, como tantos outros na sua vida.

Sorriu ao pensar nela, não na colega, mas na mulher que lhe conhecia as qualidades bem como as fraquezas. Na mulher que lhe dava calor e lhe enchia os momentos mais ocos e sombrios. Na mulher que o fazia sentir-se completo e vivo.

Não lhe apetecia estar com a outra, não lhe apetecia apenas o fogo mas antes o calor, não lhe apetecia a sofreguidão mas antes a ternura. Seria nela que procuraria mais uma vez o conforto quente que lhe sustentava a existência do seu intimo e do seu verdadeiro ser. Era tarde, talvez já estivesse a dormir. Não falavam há vários dias pois os desencontros dos seus horários eram cada vez mais frequentes.

Entrou no silêncio da casa, pousou a chaves e inspirou o cheiro familiar de uma casa onde afinal não se sentia vazio. Sorriu e dirigiu-se o quarto na ânsia de se aninhar contra ela. Hoje beijá-la-ia docemente até ela acordar e falariam sobre as suas vidas. Hoje era o dia que queria voltar a encher o seu futuro, o futuro de ambos.

Abriu a porta e olhou em volta. O candeeiro estava aceso…. a cama estava vazia.


Para Fábrica de Letras

Recomeços

Gosto de recomeços. Recomeçar de novo é um bálsamo para a alma e para a motivação. Pressupõe que errámos no passado e que esses erros cometidos até nos podem ter custado caro, demasiado caro. Mas afinal é com os erros cometidos que aprendemos a crescer, que aprendemos a moldar-nos às vicissitudes que a vida nos oferta e acima de tudo é com os erros que aprendemos a acertar.

Um recomeçar de novo dá-nos alento para o que o futuro nos reserva. Mal ou bem, é acima de tudo a antevisão de uma nova oportunidade que nos trará seguramente uma nova experiência e uma nova vivência. E quem não gosta de colocar os erros, mágoas e desilusões para trás das costas?

A vida é nada mais que uma linha recta, no entanto cheia de curvas. A sorte e o acaso ditam se a curva é à esquerda ou à direita, mas cabe-nos a nós decidir quando é altura de sair de uma curva para entrar na próxima. E quanto a mim, prefiro ter essa decisão sob o meu controlo e ser eu a decidir os meandros do meu percurso.

Aqui recomeça-se qualquer coisa, o quê não sei bem, o futuro o dirá. Sei, contudo, que é algo que se avizinha prometedor, revigorante e acima de tudo libertador. Aqui o diabo dentro de mim é livre para se soltar, para se revelar… sem medos… sem pudores… sem castrações. Aqui , caros leitores… aqui o diabo Quer, Pode e Manda!
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