Encontros Casuais - Part II



Olhou à sua volta, observou aquele ambiente calmo e prazeroso do bar desconhecido. Um casal numa mesa oposta à sua, algumas pessoas no balcão e o empregado que preparava um qualquer cocktail. Em fundo tocava uma música calma, lounge. Nunca havia gostado particularmente desse género de músicas mas, curiosamente, agora não lhe desagradava de todo. Estava na hora de começar a gostar de coisas novas. No auge da idade, sentia que os seus 30 e poucos anos lhe permitiam a indulgência de se redefinir.

Não havia ligado a Pedro, preferira ficar a sós esta noite. Rafael precisava de pensar na incongruência da sua vida. Era bem sucedido nos seus negócios, procurado pelas mulheres, agraciado pelos amigos. Mas o casamento falhado, pela ignomínia da traição de alguém em quem confiara tanto, fazia-o ainda hoje sentir-se vilipendiado. Não se tornaria num homem amargurado com os pesares com que o destino o brindara, mas decidira que as rédeas desse mesmo destino estavam agora nas suas mãos. No que diria respeito à entrega da sua confiança pelo menos. Não, não daria mais essa oportunidade. A quem quer que fosse.

Brincou com o copo de whisky e tentou relaxar ao som da música e deixou-se levar pelo nada entorpecedor daquele momento, naquele bar desconhecido.

Estava prestes a levantar-se quando ela entrou. Não soube o que exactamente o impediu de se levantar, mas deixou-se ficar. Afinal tantas outras mulheres tinham tentado entrar na sua vida quando ainda nem sequer pensava em sair e nunca antes alguma o tinha feito sequer hesitar.

Mas ela fizera. Talvez fosse o cabelo dourado que lhe caía pelos ombros de forma sensual, ou o antever de umas curvas sublimemente sinuosas por baixo do seu tailleur de saia preto. Talvez a forma provocativa, no entanto discreta, como se mexia ou as pernas longas naqueles saltos altos a que poucos homens resistiam. Talvez a promessa calada de encontros extenuantes repletos de casualidades e cedências mútuas.

Estava acompanhada por um homem bastante mais velho, formalmente vestido, que lhe colocara a mão no fundo das costas, numa subtil atitude possessiva. Encaminhava-a para uma mesa perto da sua.
Viu-lhe o rosto claro sob a luz ténue ao passar diante de si, e por um segundo longo, o seu olhar fixou-se nele. Estupidamente sentiu uma excitação indesejável tomar conta de si, e reposicionou-se discretamente. A necessidade súbita não se coadunava com a actividade calorosa dos últimos tempos. 
Fez sinal ao empregado com o copo na mão. Não tardou a vir.

Tentou imaginar a história dela. Não tinha aliança no dedo, contrastando com o facto de a sua companhia ter. Seria sua amante? Uma acompanhante de luxo talvez. Sabia como eram essas acompanhantes, por norma mulheres atraentes pautadas por uma postura de classe e segurança. Pensou como a respeitava mais, independentemente do seu estatuto ali, pelo simples facto de não ter aliança no dedo.
Não conseguia ouvir a conversa e o bom senso impedia-o de atentar ao que se passaria naquele encontro. Riu-se de si próprio, da sua triste e patética situação. Ainda não tinha acabado a bebida, mas colocou uma nota na mesa, pegou no blazer e levantou-se para sair.

Ela levantou-se também. Com uma breve despedida formal deixou o homem na mesa e com um caminhar confiantemente pesado encaminhou-se para a saída.

Saiu atrás dela, sem saber bem com que intuito. Viu-a dirigir-se ao carro, tinha carro próprio o que não combinava com a hipótese de ser acompanhante, seria amante portanto. Ou não.
Quis ir ter com ela, apresentar-se, mas achou a ideia simplesmente despropositada. Ouviu o motor a trabalhar e ficou a ver o carro desaparecer no escuro da noite. Arrependeu-se quase de imediato, ainda que com a desculpa de um falso sentido de sensatez, de não ter falado com ela. Teria gostado de passar a noite acompanhado.

Mas esta noite voltaria só para o seu apartamento, como todas as noites anteriores.

19 Diabruras:

Silent Man disse...

Começa bem... E a música é lindíssima! Já tinha saudades de uma boa música suspense/romance! A batida é simplesmente fantástica!

Kiss

Louise disse...

MR, começa bem????!?!??!
Isto já é a Parte II...

P.S. Thanks for the tip ;) correction made

Silent Man disse...

Começa bem, a trama! A parte I foi apresentação dos factos!

O 1º episódio de qualquer série é sempre o preâmbulo! A história começa no 2º :)

Kiss

Louise disse...

Ah pronto, ok ;)
Era para ver se estavas atento :P

Roxanne disse...

Gostei da envolvência... fiquei curiosa!

Sofia disse...

O moço foi para casa, mas a história tem pernas para andar!
bj

Sofia disse...

O moço foi para casa, mas a história tem pernas para andar!
bj

Marquês de Sade disse...

Simplesmente...
Ler, imaginar... ao som desta música fantástica...
Beijo

Louise disse...

Roxane, boa. Espero que sigas então estes encontros ;)

Louise disse...

johnny, nice... that you think it's nice ;)

Louise disse...

Sofia, espero que sim. A ver vamos onde nos vai levar.

Louise disse...

Marquês de Sade, a ideia é acompanhar sempre com as músicas que me serviram de inspiração ao escrever ;)

Anónimo disse...

Fico a aguardar ansiosa o próximo capítulo!! Muito bom, tanto o texto como as músicas! :)

Beijinho, Ana.

Anónimo disse...

Coexistial.

De uma maneira ou outra já senti algo semelhante. Pessoas que nos cruzam de frente, que nutrem uma cumplicidade ao primeiro olhar, uma união de pensamento e desejo, mas que ao mesmo tempo parecem... inatingíveis.

Continua com este devaneio literário-musical. Fez efeito :)

Rafeiro Perfumado disse...

Sucedendo ao "amor à primeira vista" temos o "vontade de dar uma à primeira vista"... ;)

Beijocas!

Purple disse...

Mrs Louise :)

Fico muito contente por reconhecer a envolvência da tua escrita neste texto.

Já tinha saudades tuas.

Beijinhus

A Loira disse...

Bem, eu estou curiosa para ler a continuação. Deixei-me envolver.

Anónimo disse...

Sabes envolver...

Obrigado por este bocadinho.

:)

Louise disse...

Ulisses, é esse o objectivo. Obrigada eu.

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Agradeço desde já tudo* aquilo que o diabo dentro de ti possa ter para dizer...

*excepto tudo aquilo que o diabo dentro de mim não concordar

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