Sem máscaras

A quem entregam vocês as vossas inseguranças e medos?

Penso que é das coisas mais difíceis de fazer, falar abertamente daquilo que nos atormenta, daquelas que acreditamos ser as nossas fraquezas e falhas. É difícil porque enquanto vivem apenas dentro de nós e do nosso pensamento temos controlo sobre elas, mas a partir do momento em que as verbalizamos tornando-as mais reais para outra pessoa, então passam a ser factos irrevogáveis aos quais não podemos fugir.

Acredito que é preciso uma confiança desmedida por alguém para conseguirmos revelar este género de segredos.

Pelo menos assim o é no que me diz respeito. E se por um lado permite uma entrega total de mim como pessoa, também me torna mais vulnerável. E a fachada tão calculada que tanto me protege perante os demais deixa de poder ser utilizada para com aquela pessoa em questão.

Isso assusta-me. Assusta-me porque passo a ter consciência que aquela pessoa me conhece até ao mais ínfimo pormenor, sem máscaras ou disfarces, sem dissimulações ou ocultações. Mas o pleno daquilo que sou.

E o que verdadeiramente assusta é tão somente a derradeira questão: será que consigo ser amada por aquilo que verdadeiramente sou e não por aquilo que quero que acreditem que seja?

16 Diabruras:

Marquês de Sade disse...

Acho que conseguimos ser amados por aquilo que verdadeiramente somos... Sem ter necessariamente que entregar as nossas inseguranças ou medos!
Isso faz parte da descoberta.
Tentar ser algo que não somos, isso não! Mas não implica revelar tudo...
Com o tempo esse alguem vai-se apercebendo das nossa inseguranças e até das nossas qualidades mais "escondidas".
Não precisamos entregar "tudo" de uma vez :)
BJinho

Louise disse...

Marquês, tens razão, e talvez haja coisas que nunca chegamos a ter coragem de desvendar.

Mas depois há aquelas que sim, que damos a conhecer ainda que com algumas dúvidas. E são essas que passam a distinguir a relação mais forte de todas as outras.

A Loira disse...

Eu entrego todas as minhas inseguranças e medos (fiz hoje um post com este tema) aos meus amigos, eles ajudam-me sempre, arranjam sempre uma maneira de me conseguir fazer ultrapassar e os meus amigos e amigas fazem o mesmo comigo, então eu faço o mesmo com eles, tento arranjar força para os acompanhar.
Não são muitas as pessoas em quem confiamos tudo de nós, mas há sempre alguém, que nos ama acima de tudo.

Beijinhos

Louise disse...

Vera, dás mesmo a conhecer tudo aos teus amigos? Incluindo as fraquezas que realmente não gostarias de ter?
Repara que não me refiro às coisas mais comuns, mas àquelas que tentamos esconder a todo o custo... porque todos temos fraquezas dessas.

Patife disse...

A questão é saber aquilo que realmente somos, pois ninguém é assim tão linear ao longo dos tempos e qualquer mente pensante é fragmentanda e tem esquinas de alter-egos. Os segredos e fantasias íntimas do Patife mudam de dia para dia. Para o Patife é "uma suma de não-eus sintetizados num eu postiço".

Louise disse...

Patife, concordo em pleno contigo.

Anónimo disse...

Faço-te uma outra questão, à qual és livre de responder ou não.
Achas que usas apenas uma mascara para com o mundo? Achas que te conheces tão bem que podes olhar-te ao espelho, tirar a mascara e saber exactamente para quem estás a olhar?
Faço-te esta pergunta porque sinto, e sei que uso muitas ao longo do dia, tantas quantas as pessoas que se cruzam comigo.
Umas são mais reveladoras, outras menos, é verdade. E em alguns casos queria mesmo estar sem mascara...
...o problema é que nem sequer consigo ter a certeza de que quando acho que a tiro aquilo que aparece é o meu rosto, o meu verdadeiro eu.
E se calhar não é por ter medo que alguém não goste do que eu sou...
...é mesmo porque tenho medo de me confrontar comigo próprio.

És capaz de o fazer? Conheces-te plenamente?

:)

Anónimo disse...

(apaga isto a seguir, se quiseres)

http://aluxuriadeulisses.blogspot.com/2010/06/pecas-de-teatro.html

com os meus cumprimentos

Louise disse...

Ulisses, essa é sem dúvida uma pergunta pertinente, e arriscada também.

Se me conheço inteiramente? Julgo que, pelo menos, tudo o que sei conhecer é verdadeiro e correcto. Sei no entanto que há coisas por descobrir, mas essas virão com a vida e experiências… ou poderão sequer nunca chegar.

E quanto à máscara, sem dúvida que nós usamos máscaras para nós próprios também. Somos demasiado medrosos para reconhecer toda a plenitude daquilo que realmente somos. Ocasionalmente deixamos antever por breves momentos aquilo que se oculta por trás das 1001 máscaras que usamos, mas acabamos sempre por rapidamente recolocá-las.
Somos seres complexos… e misteriosos.

Kika disse...

Acho que depende do amor.
Como sou muito transparente, as pessoas normalmente sabem como sou. Pessoas que saibam verdadeiramente como sou, o que sou, os meus segredos mais tristes, são poucas. MAs também são essas que eu acredito que gostam verdadeiramente de mim. Porque mesmo sabendo tudo, tudo, tudo, não me deixam.

Silent Man disse...

Acredito piamente que, ao desvendares os teus maiores segredos e seguranças à pessoa que amas, ela te vai amar ainda mais, porque reconhece a confiança que estás a depositar nela! O nosso parceiro antes de mais terá que ser um amigo, um confidente, um ombro em quem nos podemos apoiar nos momentos mais complicados! E todos merecemos alguém assim!

Kiss

EU SOU EU disse...

Em resposta á tua pergunta "A quem entregam vocês as vossas inseguranças e medos?"
Apenas a mim mesmo...apenas eu tenho a capacidade de modificar...de vencer os medos e inseguranças que sinto...são meus...de mais ninguém...apenas posso falar delas a terceiros... mas concordo contigo...é das coisas mais dificeis que se pode fazer..principalmente se não soubermos de antemão o que nos aflige...e se realmente não estivermos focados e motivados para os resolver...não adianta sequer falar deles...

Purple disse...

Não é fácil expressar em palavras os aspectos mais íntimos do nosso EU. Muitas vezes ao desabafarmos com alguém damos por nós a "adaptar" um pouco aquilo que realmente sentimos.

Falar abertamente, dizer tudo preto no branco é abrir a porta para um mundo só nosso. Como tal, muitas vezes falo para mim, procuro despir o meu lado "sombrio" e perceber onde me posso ajudar a mim própria.

Quando tudo é demasiado "pesado" para os meus ombros então recorro ao meu marido e ao meu melhor amigo. São ambos o meu suporte, aqueles que sei que tudo o que ouvirem, tudo o que disserem vai ser repleto de verdade. E pelo caminho que já percorremos sei que ambos me conhecem até nas entre-linhas pelo que não tenho nada mais a provar.

Beijinhus

Roxanne disse...

A quem confio? o namorado foi descobrindo por ele. a mãe conhece me melhor que eu mesma. a irmã também tem alguma perspicácia... confiar espontaneamente, acho que a ninguém!

Anónimo disse...

Louise,já reparaste que as pessoas são cada vez mais egoístas e plásticas do que nunca? Então para quê confiar algo da intimidade quando tudo hoje é meramente superficial? Quando as pessoas se descartam à primeira crise? Vale a pena?

É certo que não devemos fechar devido a isso, mas por exemplo à minha volta só vejo gente com vontade de ser ouvida mas que não é capaz de parar um segundo para ouvir os outros até nas coisas mais simples, quanto nas mais complexas? Na minha opinião o à vontade e a confiança necessária para partilhar algo muito pessoal com outrém não tem haver com o factor tempo (na longevidade de uma amizade, por excemplo) mas quando descobrimos pessoas que têm a capacidade de ouvir, algo raro nos dias que correm.

Até lá apenas resta ouvir aquela musica do Abrunhosa "quem me leva os meus fantasmas?!" ;)

Apreciei muito este post :)

Osga disse...

Sigo a ideia do "Eu sou Eu" com apenas a alteração,

"Os vossos medos são expressos a quem?!"

Mas já lá diz Osho,


So whenever fear comes to you, don't suppress it, don't repress it, don't avoid it, don't get occupied in something so that you can forget about it.
No! When fear comes, watch it.
Be face to face with it.
Encounter it.
Look deep into it.

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Agradeço desde já tudo* aquilo que o diabo dentro de ti possa ter para dizer...

*excepto tudo aquilo que o diabo dentro de mim não concordar

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