Idealistas

Cresci a ouvir que a minha era a geração rasca. Que éramos uns perdidos nas drogas, que não tínhamos educação nem valores, que nos faltava o braço forte do pré 25 de Abril. Tínhamos liberdade a mais e não respeitávamos os limites do socialmente aceite. Vestíamo-nos com roupas rasgadas, ouvíamos batucadas em vez de música e éramos respondões para os mais velhos. Cresci a ouvir que não íamos ser ninguém, que íamos constituir uma sociedade podre e vazia de moral.

Mas afinal, parece que não foi bem assim. Éramos jovens, tivemos as nossas tentações como todas as gerações devem ter, tivemos a nossa quota de irresponsabilidade e gozo, mas afinal não nos saímos assim tão mal.
Independentemente do que possam dizer, e eu sempre acreditei nisto desde adolescente, nós não fomos a geração rasca. Os que conseguiram sobreviver à miríade das drogas e outros que tais tornaram-se adultos com ambições e sonhos, e ainda que as dificuldades dos tempos que correm pareçam abalar esses mesmos sonhos, a perseverança e fé não são destronadas.

Somos uma geração de idealistas. Acreditamos no que é correcto e nos valores e princípios éticos e morais. E muitos poderão dizer que não, que estou enganada e que hoje em dia os valores se perderam e a moral está ultrapassada. Mas eu não acredito nisso.
Não acredito simplesmente porque não é isso que eu vejo. O que eu vejo são pessoas que lutam no dia a dia para fazerem aquilo que é correcto, que acreditam no poder da justiça e no respeito pela liberdade do próximo, ainda que muitas vezes cometam erros. Mais vezes talvez do que qualquer um de nós gostaria.
Mas é com esses erros que aprendemos, que nos tornamos mais capazes de discernir o que tem e deve ser feito.

Eu acredito na minha geração, como acredito no poder que temos de mudar o futuro das nossas sociedades. Eu acredito que conseguiremos passar isso às gerações vindouras, ainda que por vezes nos sintamos desanimados com o encaminhamento que levam. Eu acredito nas gerações dos nossos filhos ainda que hoje sejam essas as gerações que nos parecem rascas.

Eu acredito, porque eu sou uma idealista. E eu acredito que acreditarmos é o poder que temos para fazer acontecer.

16 Diabruras:

Anónimo disse...

A nossa geração não era rasca...
...andava era à rasca!

Mas infelizmente discordo um pouco de ti.
Concordo no facto de sermos idealistas, mas a verdade é que a geração anterior, a que nos chamou "rasca", não soube guiar o nosso idealismo. Somos a geração que podia ter mudado Portugal, a maneira de pensar, de sentir o próprio país, mas somos também a geração que nada fez por isso.
Somos a geração que cedeu às estatisticas em vez de resolver os problemas a partir da sua fonte.
Somos a geração que permite que os governantes, para apresentarem bons resultados ao exterior, queiram dar uma imagem estatistica que acaba por existir mas é falsa, porque inflacionada...

...por exemplo, quando se diz a um professor que o numero de chumbos na sua turma é um dos seus critérios de avaliação, sendo que, muitas vezes essa avaliação implica com todo o seu futuro...

...quando para evitar os numeros de chumbos os alunos deixam de chumbar por faltas...

Somos a geração que deixa o governo tomar medidas absurdas, como impor regras de reforma aos funcionários públicos, não vendo o que advem dessas imposições...
...que em vez de poupança se aumenta a despesa (basta ver o que se passa neste momento com os médicos, que, com razão, uma vez que as regras do jogo estão a mudar a meio, se reformam em catadupa, deixando o SNS moribundo e milhares de pessoas sem médico de familia, o que obriga o estado a pagar as reformas aos que saiem e, a curto prazo, para evitar a falência do sistema, se vê obrigado a contratar médicos no exterior, pagando assim dois ordenados em vez de um...
...em nome da poupança!)...

Podemos não ser a geração rasca...
...podemos até refilar...
...mas somos os que não fizemos nada para além disso!

:)

Queen of Hearts disse...

Bom Louise, eu acredito no mesmo que tu. E sinceramente creio que o mundo está em mudança. Muito mais profunda do que aquilo que aparenta. Um voltar às origens que em tudo parece diferenciar-se da evolução tecnológica sempre presente. E fico contente e grata por ter essa quota de idealismo, de consciência e de valores, porque só assim sei que irei vingar nesse mundo novo que - me parece - se avizinha.

Louise disse...

Ulisses,

Aquilo que eu acredito é que, muitas vezes, não é necessário realizar actos grandiosos para nos tornarmos pessoas mais nobres e correctas. Muitas vezes são os mais pequenos actos que nos tornam magnificentes… mesmo que à nossa volta poucos se apercebam disso.
Não elevamos os vozes e não nos rebelamos da forma que talvez o devêssemos (ou não) fazer. Mas acreditamos que com pequenos actos, actos escondidos e imperceptíveis na maioria das vezes, podemos a pouco e pouco ir mudando alguma coisa.

Claro que, como todas as gerações, não somos perfeitos. E não somos uma totalidade. Mas aqueles que de nós acreditam que é possível mudar mesmo que em plano de fundo são, a meu ver, um grupo muito valioso. Esses não se resignam pura e simplesmente. Não desmotivam e não sucumbem, mas antes lutam mais um pedacinho para que haja mudança – mesmo que tão e somente isso signifique apostar na próxima geração.
As batalhas mais importantes nem sempre são as mais sangrentas.

Anónimo disse...

Como eu te disse, não é que eu discorde de ti...
Concordo com o que disseste e esforço-me em cada dia para tornar o meu mundo melhor, nesses tais gestos por vezes imperceptiveis, mas também exigindo aquilo que me é devido.
No entanto não posso deixar de ter pena de ver que a minha (nossa) geração teve uma janela de oportunidade para mudar as coisas, e acabou por se deixar diluir nos vicios da geração anterior, que tanto criticávamos.
Creio que se olhares à tua volta, de uma determinada perspectiva, concordarás comigo.
Ou seja, resumindo, concordo com o que afirmas, mas não posso deixar de ter pena de termos deixado escapar um enorme potêncial...

:)

Olhos Dourados disse...

Se tu eras de uma geração rasca, então imagina esta nova! lol

Louise disse...

Ulisses,
Sim percebo o que queres dizer. E concordo que realmente podias ter feito mais do que aquilo que fizémos... mas olha, talvez possamos ainda incentivar a próxima a isso.

Olhos Dourados,
É engraçado como, sem excepção, todas as gerações criticam a sua subsequente. É como tudo, há o trigo e o joio. Mas não podemos e nem devemos generalizar.

Anónimo disse...

Interessante :)

Na minha opinião, qualquer geração é rasca, aos olhos da anterior, e isso pode estar relacionado com vários aspectos, como por exemplo a maior "liberdade" que as gerações mais novas vão tendo, o "despreendimento", face a valores e dogmas das anteriores, que vão vê-las sempre como gerações lago "perdidas" ou falhadas, isto por que na sua análise todas as gerações futuras sofrem da falta de algo, que foi bandeira da sua geração e a posterior já não tem.

Louise disse...

Martini,
Foi impressão minha ou refertiste-te com 'você'?
Bem, que não se repita.
Mas de qualquer forma concordo com a tua opinião.

Anónimo disse...

ahahahahaah... Não percebeste, ou melhor eu é que não me expressei bem. Quando disse "que foi a bandeira da sua geração" ou a "sua análise" não me referia à tua análise em concreto, como talvez tenha ficado sub-entendido, falei num sentido mas abrangente que nem é dos anos 30, 60, 80, ou 90, semrpe relativo ao posterior. As minhas desculpas até porque creio que tanto por algumas coisas que escreves, músicas, e um certo modo de pensar, tenho a certeza que somos da mesma geração :)

Louise disse...

Martini,
Ah ok. Lendo novamente percebi exactamente o contexto.

Já agora... estás abaixo ou acima dos 30? :P

Anónimo disse...

...a roçá-los :S

Anónimo disse...

e tu, já agora? :=)

Roxanne disse...

rasca são alguns dos miudos que nao têm o minimo de valores nem de educação!

Rebeubeu disse...

eu também.
acredito.

Louise disse...

Martini,
A rocá-los também...

A Loira disse...

E eu não posso concordar mais contigo, acreditar é o mais importante, eu consigo tudo aquilo em que acredito.

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Agradeço desde já tudo* aquilo que o diabo dentro de ti possa ter para dizer...

*excepto tudo aquilo que o diabo dentro de mim não concordar

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