Digitara a carta com uma força e rapidez avassaladoras como se, agora que tinha em plena consciência aquilo que tinha de fazer, o não fazê-lo significasse o cessamento da própria vida.
Tudo o que até então acreditara ser a sua entidade não mais tinha relevância. Não queria que tivesse. Despertara da letargia em que se encontrava há demasiado tempo e somente agora sabia ser capaz de começar a viver.
Não queria e nem iria permanecer mais preso a um passado que não era o seu.
Dobrou minuciosamente a carta em três partes iguais, como se de uma formalidade se tratasse, e colocou-a sobre a mesa. Não queria lidar com mais ninguém neste momento e saberia que em breve teria de ouvir todas as advertências e conselhos que não pediria.
Mas desta vez o seu presente, o seu futuro, não seriam ditados num jogo cujas regras lhe eram infligidas de forma demasiado penosa para que pudesse suportar. Inspirou profundamente o ar gélido daquele final de tarde, como se agora sentisse todos os detalhes de uma vida não disfrutada de forma dolorosamente acutilante e libertadoramente real.
Quase sentia na língua o sabor daquilo que seria de ora em diante.
Esperou. Pacientemente, como se tivesse todo o tempo do mundo. As horas passaram, e ele permaneceu ali, sentado, num estado de calmaria que não reconhecia.
A porta abriu-se vagarosamente, como se ela adivinhasse a intempérie que a sua vida estava prestes a sofrer. Ela sabia. Ele sabia que ela sabia.
Ela olhou para ele com uma graveza tal no olhar que quase o levou a desistir da sua corajosa e tão ansiada decisão. Quase…
- Não esperava que já estivesses em casa. – As mãos dela libertavam-se, de forma demasiado lenta e ponderada, da mala e casaco.
- Não fui trabalhar hoje.
Rasgava-se-lhe a alma pelo que estava prestes a fazer. Sentiu-se sucumbir num redemoinho de emoções e sentimentos que lhe toldavam o raciocínio e a razão.
Apetecia-lhe gritar para que todos ouvissem que era aqui. Agora! Não mais!
Inspirou fundo e levantou-se. Apesar da urgência para levar a cabo o que se predispusera a fazer, sentia-se estranhamente calmo.
A luz guiava-o, a clareza do caminho a seguir era demasiado presente para que pudesse ser ignorada. Agora sabia-o.
Calmamente pegou na carta e entregou-lha.
(Continua... Aqui)
(Uma parceria by Louise & Ulisses)
10 Diabruras:
Tanta coisa só para entregar a carta de despedimento à empregada de limpeza?
Ora aí está uma possível vertente a desenvolver ;)
Estou a adorar a vossa parceria, a história começa a prender-me, não só por a maneira como escrevem, os dois, como por o facto de não termos a mínima ideia do que vai surgir a seguir, já que é uma outra mente que o vai pensar.
Beijinhos.
Eh eh... o Rafeiro também anda inspirado:)
Keep going on!
Louise, compra-se na fármácia?
obrigada
Anf, a história não... só mesmo por aqui ;)
Mas sim, o que te referi compras só na farmácia :P
A carta era para a mulher/namorada, a vida que ele vivia era a que a suposta cara metade queria que ele vivesse, ia embora, era um fim.
Gosto da tua escrita.
bjo
Começo a gostar...
Algo me diz que esta parceria vai resultar muito bem... estou a gostar imenso.
Beijo libertyo
Adorei a parceria ...
vocês juntos se dão muito bem ...
Enviar um comentário
Agradeço desde já tudo* aquilo que o diabo dentro de ti possa ter para dizer...
*excepto tudo aquilo que o diabo dentro de mim não concordar