Encontros Casuais - Part VI



Entre um copo e um pensamento, sentia-se a caminhar pelo abismo. E como era doce e convidativo esse abismo, como o fazia sentir-se vivo e acesso.
Não a voltara a ver ou sequer falar com ela depois daquela noite uns dias atrás. Quando acordara nu no seu terraço já ela havia saído, não fora os resquícios do prazer que haviam vivido e julgaria ter sido tudo apenas um sonho, uma fantasia por demais deliciosa.
Nos dias que se seguiram não se reconhecia a si próprio. Fantasiava com ela nas horas mais inoportunas e não conseguira focar-se devidamente no seu trabalho. Até Pedro havia notado o seu comportamento alienado e sugerira-lhe que esse facto solver-se-ia em companhia feminina. Ah, mas mal sabia Pedro que o seu problema residia precisamente na companhia feminina… numa em particular.

Recostou-se mais no sofá e colocou os pés entrelaçados na mesa de centro. Saboreou o whisky, fechou os olhos e pensou mais uma vez no corpo dela… nos olhos dela… na pela macia que lhe despertava o ser… no toque que o levava à loucura…

Foi arrancado da sua divagação com o telemóvel a vibrar, colocou os pés no chão e chegou-se à frente para lhe pegar. Olhou para o visor e viu um número estranho. Sentiu a antecipação apoderar-se de si e, com a sua típica calma, atendeu a chamada.
- Preciso de te ver – disse-lhe a voz do outro lado.
- E eu a ti – fez uma pausa - estou sozinho, vens ter comigo?
- Não. – respondeu-lhe de forma assertiva – vens tu ter comigo.
Registou mentalmente o local que ela mencionara e sem mais palavras terminaram a chamada.

Pôs a água do duche a correr e despiu as roupas que trazia enquanto imagens de prolepse daquele encontro se formavam na sua imaginação.
Quando terminou o duche, limpou o cabelo e o corpo, prendeu a toalha à cintura e perfumou o peito como era o seu hábito.

Nesse momento a campainha tocou. Não queria acreditar que ela o surpreenderia daquela maneira, mas sentiu de imediato uma onda de tormento delicioso inundar-lhe as partes mais íntimas.
Encaminhou-se para a porta tal como estava – ela iria gostar certamente – e dobrou o trinco da porta. Não era ela.

Não queria acreditar na pessoa que estava à sua frente. Como raio se atrevia a aparecer-lhe assim, sem convite ou aviso? Usava uma camisa extremamente decotada que outrora fora do seu agrado. Agora e comparativamente parecia-lhe apenas ordinária.
Não convidou Raquel a entrar, mas ela entrou de qualquer forma com a atitude autoritária que sempre tivera durante as suas vidas em comum.
Mirou-o de forma concupiscente de alto a baixo e esboçou um sorriso reles.
– O Pedro disse-me que tens andado em baixo, e pensei que talvez estivesse na hora de conversarmos. – disse-lhe enquanto se dirigia à sala.
– Não temos nada para conversar e o Pedro está equivocado. Agradeço-te que saias porque tenho um compromisso e estava mesmo de saída. – tentou esconder a aversão que ela lhe fazia sentir mas mostrou-se distante e frio.
Raquel encaminhou-se para ele e colocou-lhe a mão no peito nu e ainda húmido – Achas mesmo?
Rafael sentiu-se nauseado. Todas as sensações inerentes à traição voltaram-lhe à memória. Imagens de corpos nus nos seus lençóis, na sua cama formaram-se-lhe na mente. Olhou-a nos olhos enquanto lhe retirava a mão de si. Como é que poderia ter sido tão estúpido e cego? Como pudera acreditar cegamente numa pessoa que afinal não conhecia de todo? Tinha-se deixado levar pela aprazia das miríades do amor, das fantasias imaginárias de que poderia partilhar o seu ser e a sua vida com alguém que lhe daria igualmente na mesma moeda. Mas tinha-se enganado. Como se tinha engando.

Enquanto a segurava pelo pulso arrastou-a novamente à porta que não chegara a fechar.
- Agradeço-te que saias e não voltes. Não foste e não serás convidada a esta casa. As nossas conversas terminaram no dia que te resolveste meter na minha cama com o teu amante. Felizmente já nada me liga a ti há muito tempo. Não voltes, considera-te avisada.

Ouviu-a a reclamar enquanto lhe fechava a porta, mas ela não voltou a tocar. Que raio teria passado pela cabeça de Pedro para falar com ela acerca dele?
Sentia o sangue a ferver de raiva pelo que ela lhe havia relembrado. Deixou-se cair no sofá enquanto se tentava acalmar. Não queria acreditar que depois de um ano do divórcio ainda se sentisse tão traído e colérico em relação àquela história passada.
Precisava de uma bebida para se acalmar, serviu-se de whisky e tragou o liquido de uma só vez.

Voltou a servir-se e voltou a beber. Deixou-se levar pela dormência que lhe começava a assomar o corpo.

9 Diabruras:

Roxanne disse...

não podes cortar assim a história!!! ai que curiosidade para ver onde isto vai acabar! =D

Purple disse...

Adoro a história de Encontros Casuais.

Tens um dom natural para reflectires na tua escrita toda a envolvência da história.

Só agora reparei que a personagem de uma das minhas histórias também é Rafael LOL.
Gosto de nomes fortes que traduzem uma personalidade vincada.

Beijinhus

Silent Man disse...

Mental note... Nunca deixar uma mulher pendurada... Mesmo que a ex nos apareça à porta a pedir festa!

Adorei o post!

Kiss

A Loira disse...

Minha querida, um dia ainda vou ler um livro teu.

Patife disse...

A escrita da Loulou embalou o Patife... Gostei da cadência do texto. ;)

Anónimo disse...

Encontro casual ou Surpresa desagradável? Gostei da imprevisibilidade deste encontro. :)

Excelente escolha musical :)

duda disse...

fortes sentimentos, fortes emoções e fortes reações!

Ricardo disse...

Diabo, "concupiscente" é demais... e ele não foi ter com a outra? Parvo!

Anónimo disse...

Louise,

Apenas te posso dizer isto: Muito, muito, muito, mas mesmo muito bom.

Parabens. Adorei ler-te.

:)

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Agradeço desde já tudo* aquilo que o diabo dentro de ti possa ter para dizer...

*excepto tudo aquilo que o diabo dentro de mim não concordar

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